segunda-feira, 27 de junho de 2011

IRACEMA. (José de Alencar)

Pesquisa e trabalho escolar de Maria Auxiliadora de Carvalho
Parte II.
Leia a parte I. Clique aqui.
[...] Iracema (América) no seu primeiro encontro com o conquistado Martim, (que significa na língua indígena: filho de guerreiro), com o qual se encanta, tem uma reação defensiva que, depois transforma-se em arrependimento perante a cordialidade do invasor. Nesse instante, começa a submissão de Iracema e uma luta interna, sentido-se culpada por seu sentimento, pois carrega em si a responsabilidade de ser a guardiã do segredo de Jurema e o mistério do sonho. Deverá permanecer virgem. Foi escolhida. Entre Iracema e Martins surge uma atração muito forte, que as poucos vai desviando a virgem, servidora de Tupã, do seu caminho, do seu destino. Ela acaba negando sua raça, religião, cultura, participando, por omissão, da morte dos seus irmãos, submetendo-se ao desejo do homem branco, enganando a confiança do seu povo, aceitando passivamente as normas de uma cultura estranha. Gera um filho, que receberá o nome de Moacir, (o filho da dor) considerado o primeiro Cearense, que será a culminação dessa união, desse amor. Porém prevalecem as prioridades e desejos de Martim. Depois de muita dor, cumprida a sua missão, Iracema morre.
Mas, apelando ao seu romantismo, José de Alencar mostra indígenas bonitos, principalmente quando fala de Iracema, linda, morena, cabelos longos e negros, como a asa da graúna, sorriso doce como o favo de jati, são saudáveis, elegantes, ágeis, e vivem em perfeita comunhão com o seu meio ambiente.
Iracema é apresentada como modelo de feminilidade, de beleza, confundindo-se com a exuberante natureza. Só perde sua rebeldia, sua coragem, sua agressividade quando está com o seu amado. Ele consegue dominar seus impulsos, seu pensamento. Iracema perde seu poder de decisão, sua liberdade de agir e de pensar.
Martim é o símbolo do homem cordial, o gentil conquistador de terras e corações, que toma conta de tudo.
Martim e Iracema simbolizam a ação da conquista da América. Há, em toda a obra, uma clara desumanização do índio. Ele é inferior, simplesmente caiu antes mesmo de lutar; deve acatar, obedecer, sucumbindo e aceitando, quase sem resistências, o domínio, a cultura, a religião e os costumes estrangeiros. Além de ceder suas terras, entregar sua alma.
Moacir, nascido do colonizador e do subordinado, mameluco, não é branco nem índio, será a base de uma nova raça, de uma pátria incipiente que tenta criar sua história.
É injusto que hoje, com muita informação e perspectiva, julguemos, condenando ou não, o projeto ambicioso e arrojado, para aquele momento de José de Alencar e outros autores. Devemos lembrar que, com exceção da deslumbrante natureza, pouco ou nada existia da pátria, tudo estava por fazer, por construir.
Iracema continuará reclamando olhos e mentes pensantes, pois nas suas páginas encontramos os elementos básicos da nacionalidade brasileira. É uma lenda que não explica tudo, mas permite pensar, investigar e concluir sobre muitos aspectos da nação, a maioria deles com reflexos em nossos dias.
Menciono aqui, o capítulo 31, onde descreve a dor de Iracema por não conseguir mais amamentar seu filho: “Iracema curte a dor como nunca sentiu, parece que lhe exaurem a vida” “A triste esposa e mãe soabriu os olhos, ouvindo a voz amada. Com esforço grande, pode erguer o filho nos braços e apresentá-lo ao pai...”. É o fim e começo, a vida se renova na dor, na resignação, no domínio do mais forte. É um paradoxo. É vida e morte. É começar de novo.
A obra emociona, acima de tudo, pois trata do amor, de vidas em conflito, de relacionamentos. Principalmente ainda, porque simboliza a formação de uma nova raça, o poderio de outra em detrimento daquela a ser aniquilada. É uma época bastante diferente da atual, mas também muito similar. Sempre existiram dominadores e dominados. Conquistadores e conquistados. Quando alguém ganha muito é porque outro perdeu. O homem (Martim) o galanteador, mas também, dominador, forte, evoluiu muito pouco. Falta ainda hoje, em minha opinião, brandura, humildade, sabedoria. A mulher teria caminhado um pouco melhor no passar destes tempos, (de 1800, por aí) até os dias de hoje. Embora ainda, muito subjugada, humilhada, explorada, teve um pequeno crescimento espiritual, intelectual, social e econômico, o que lhe garante um avanço nas relações pessoais, de trabalho e outras.
Enfim, um romance excelente, uma história do Brasil.  A obra cumpre seu objetivo e deve ser lida por todos.
IRACEMA. Em setembro de 1965, completou cem anos de publicação, e um levantamento bibliográfico então feito registrou mais de cem edições, o que dá posição ímpar a este romance na literatura brasileira: em seu primeiro século de vida, mais de uma edição por ano. 

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